“A vida não tem rascunho e se modifica a cada instante..."

Vemos o jovem, sobre tudo hoje, muito distanciado do chamado ritmo biológico em função de uma prática cultural e econômico/ social a cada dia mais desvinculada da natureza. Tem caso de crianças que pensam que ovos e laranjas já saem encaixotados e o leite vem da caixinha. Presos ao tempo mecânico (do relógio), esquecemos que o que gera nosso próprio organismo são as leis naturais, e que há uma reciprocidade entre nosso mundo e o mundo natural que ignoramos ou subestimamos.

O que move os sentimentos e aquece o gesto ritual é, sempre, um valor: a comunhão com a natureza, com os homens, com Deus, a unidade vivente de pessoa e mundo, o estar com a totalidade.

O dia em três etapas: A alvorada / O meio do dia / O crepúsculo

Nesta ação podemos vivenciar os ritmos da natureza, suas metamorfoses a partir da memória: "o fato de que a natureza seja recordada". Re (cor) dar a natureza é, etimologicamente, repô-la no coração do homem, socializando-a no mesmo passo que o homem se naturaliza. Partimos então da leitura de fragmentos recolhidos dos textos de Guimarães Rosa onde alguma palavra ou imagem sugerisse estes estágios do dia e nos inspirasse buscando estas sensações dentro de nossas próprias vivências.

ALVORADA

“Nascer da alma, vida na alma, beleza para os olhos claridade, o nascer do sonho”.

(Maria Regina Ireno Bruno)

“Começa o amanhecer, rompe-se às trevas, quebra-se o silencio, muda-se o cenário, tudo começa a se transformar em movimento... Nasce o sol com todo o seu resplendor enchendo de cores e alegrias com a sua maravilha estonteante”.

(Hulda Cardoso Rodrigues)

"Revi madrugar, quando esbarramos, na beira duma vereda pagã, por repouso. Aurora: é o sol assurgente – e os passarinhos arrozeiros. Cá o céu tomou as tintas. Aí retoquei muita lembrança madraça, como se estivesse no antigamente”.

(Guimarães Rosa)

“O amanhecer é mais um dia para viver, para descobrirmos coisas novas”.

(Giovanna Lopes Barbosa)

Por entre as nuvens raios alaranjados surgiram. Detrás da montanha pude ver o amarelo do sol. A brisa escorria por entre as folhas revelando o calor da manhã e o dia surgiu mais uma vez.

(Tharry Michael Rodrigues)

“O pôr do sol e o nascer do sol trabalham juntos. A beleza de quem com olhos de quem faz o dia.”

(Felipe Oliveira Alves)

“Foi fogo posto. Arrasar que vem de para onde não se olha: feito forte sol; e vem como sol nascendo! Rachavam lascas, espatifavam. Aí podiam descascar os arvoredos de uma dessas, floresta toda inteira... Apraz que os ares!”

(Guimarães Rosa)

O MEIO DO DIA

“As pessoas ficam sem sombras”.

(Karla Mirian Alvez Diniz)

“O meio do dia é a hora mais calorosa do dia, pois brincar com as sombras não existe”.

(Carlos Lúcio Pinto Junior)

“Mesmo com o céu nublado, na hora do dia, é o meio dia a hora mais quente”.
(Giovanna Lopes Barbosa)

“O frio da manhã é deixado para trás, o calor do dia chega. O sol já está em destaque. No meio do sol, céu limpo, um azul claro entra em destaque e tudo é visto mais claramente”.

(Tharlly Michael Rodrigues)

“Centro solar, sol quieto, parado de pensamento, sufocante, sol escaldante”.

(Maria Regina Ireno Bruno)

“Aonde começa a parte mais alegre. Quando o volume da viola se encontra com o do violão se juntando com a voz. O cheiro de comida se encontra presente no ar, uma bebida ou suco natural para ajudar”.

(Felipe Oliveira Alves)

“Morros azuis me percorrem; desenharam-se dos céu, ao fundo a Serra dos Gerais- mal levantada chata, mas se estirando num movimento sensível, suave movimento, via norte. Com sua espinha e base verde-escuras, entre esses o franco verde claro,onde se hospedam úmidas veredas. O céu é uma poeira azul. Papagaios no vôo-loiros verdadeiramente”.

(Guimarães Rosa)

CREPÚSCULO

“Já está escuro, mas ao mesmo tempo claro. O sapo faz um estranho barulho no meio do brejo, o grilo canta, a coruja. Os cachorros inquietos latem. O céu cheio de estrelas e a lua mostram que à noite tudo fica mais bonito”.

(Tharlly Michael Rodrigues)

“Sono do sol, sossego da alma. Sereno que cai no corpo sereno... descanso. Noite... dia vencido, esperança renovada.”

(Maria Regina Ireno Bruno)

“No por do sol acontece intensas maravilhas. Um intenso alaranjado cobre parte do céu enquanto outra é coberta por um negro medonho."

(Hulda Cardoso Rodrigues)

“O dia de suor e trabalho terminam. A hora chega. A jantar em cima da mesa, o lampião e a vela quase apagando, é chegada a hora de dormir."

( Felipe Oliveira Alves )

"A hora mais bela para as crianças, as estórias mais fascinantes que as fazem dormir.
Ao dormir é a sua vez de descansar. Abraçar sua mulher, contar o que aconteceu durante o seu dia, e pegar num lindo e profundo sono, aonde pelo menos não somos perturbados com a realidade, mas sim, com nossas esperanças".

(Felipe Oliveira Alves)

“6hs.5’- Crepúsculo. Lá, poente, sobre o São Francisco e além, onde o sol se pôs: cor maravilhosa - um alaranjado ou cobre, que nunca vi antes. É incrível, parece que aquilo permaneça. Entre longas nuvens horizontais, escuras. É como se uma coisa nova tivesse sido capitada, e exibida. Acima, um suave azul, onde se esgarçam nuvens trevosas (B2, p.6-7)."

(Guimarães rosa)